Balé em três atos
Libreto: Charles Nuitter e Arthur Saint-Léon, baseado na história de E.T.A Hoffman.
Coreografia: Arthur Saint-Léon
Cenários: Cambon, Lavastre e Despléchin
Música: Léo Delibes
Figurinos: Paul Lormier
Estréia mundial: 25 de maio de 1870 no Théatre Imperial de L’Opera de Paris.
Giuseppina Bozacchi interpretou Swanilda e Eugénie Fiocre, Franz.
Libreto: Charles Nuitter e Arthur Saint-Léon, baseado na história de E.T.A Hoffman.
Coreografia: Arthur Saint-Léon
Cenários: Cambon, Lavastre e Despléchin
Música: Léo Delibes
Figurinos: Paul Lormier
Estréia mundial: 25 de maio de 1870 no Théatre Imperial de L’Opera de Paris.
Giuseppina Bozacchi interpretou Swanilda e Eugénie Fiocre, Franz.
Coppélia é,
provavelmente, o ballet cômico mais conhecido e certamente o mais apresentado,
no entanto, é muito mais que uma peça engraçada. Foi uma quebra na tristeza dos
ballets românticos da época, Coppélia foi um sucesso imediato com seu
humor, brilho e suas vigorosas danças nacionais. Criado quando Paris estava
perdendo sua posição como capital da dança do mundo, e com a popularidade do
balé estava em decadência, a estréia contou com a presença das principais
figuras da sociedade parisiense.
Embora as raízes de
Coppélia estivessem no ultrapassado movimento Romântico, esse ballet
alcançava além, e criando uma base para o ballet clássico que ainda estava por
vir. Coppélia tem os camponeses robustos típicos do ballet Romântico, mas
nenhuma criatura etérea, apenas uma terrena boneca mecânica. A coesão artística
do trabalho e sua incorporação de danças nacionais, seu virtuosismo técnico e
variações, pressagiaram o ballet Clássico que então surgiria.
Apesar do sucesso de
Coppélia em sua estréia, apenas 18 apresentações foram feitas
inicialmente. O exército prussiano invadiu a França logo depois da estréia, e o
sitiamento de Paris impediu as apresentações.
Impressionado com o sucesso
do ballet La Source (1866), Émile Perrin, diretor da Ópera de Paris,
pediu à Charles Nuitter e Arthur Saint-Léon para que colaborassem novamente.
Nuitter, arquivista da Ópera de Paris, trabalhou no libreto de Coppélia com o
coreógrafo Saint-Léon. Léo Delibes, o qual também tinha composto parte da música
de La Source, foi escolhido para ser o compositor.
Pouco é sabido sobre como os
colaboradores trabalharam juntos, mas é provável que Nuitter tenha sugerido a
estória da boneca de E.T.A Hoffmann e a idéia tenha rapidamente sido aceita.
Coppélia é baseada em Der Sandmann (1815), mas Nuitter manteve-se
afastado do lado obscuro da estória original, concentrando-se em uma espécie de
comédia que também teve grande sucesso em outro ballet, La Fille Mal
Gardée. Na estória original, de Hoffmann, a boneca de fato ganha vida,
usando o espírito retirado de Franz, enquanto no ballet Swanilda finge ser a
boneca, para salvar Franz do experimento de Dr. Coppélius.
Saint-Léon foi bailarino
principal e maitre de ballet do império russo, além de talentoso músico e filho
de outro respeitado maitre de ballet. Em seu ballet Le Violon de Diable
demonstrou sua habilidade, acompanhando a ele mesmo no violino enquanto dançava
sua própria coreografia. Para Coppélia criou uma variedade de solos e danças
para o corpo de baile, com enorme quantidade de diferentes estilos, incluindo
danças nacionais, notavelmente a primeira czardas húngara para ser apresentada
em um ballet.
Nuitter havia pensado em
Léontine Beaugrand para o papel de Swanilda, mas Perrin não a considerava boa o
bastante. Saint-Léon importou uma protegida sua, a alemã Adèle Grantzow, na
época estrela do Bolshoi, para o papel principal.
Por Saint-Léon estar
dividindo seu tempo entre França e Rússia, o período de produção do ballet foi
demorado, sendo ensaiado por cerca de 3 anos. Somente no verão de 1869, Coppélia
finalmente ganhou forma, mas a estréia foi adiada para 1870, pois Saint-Léon
precisava voltar à Russia, talvez a demora tenha permitido que os pontos fracos
fossem ajustados, mas também significou o não aparecimento de Mme. Grantzow no
ballet. Devido a uma lesão, ela foi obrigada a voltar para casa antes da estréia
de Coppélia. Lesão, a pior aflição para um bailarino – iriam perseguí-la para o
resto de sua carreira. Mme. Grantzow faleceu após ter uma das pernas
amputadas.
Uma busca nas escolas
parisienses foi iniciada, e uma talentosa estudante italiana foi encontrada,
Giuseppina Bozacchi, que tinha 15 anos quando começaram os ensaios, e 16 na
estréia. Impressionou os críticos com sua personalidade e bom trabalho nas
pontas. Mlle. Bozacchi dançou em 18 apresentações antes da guerra impedí-las.
Infelizmente, durante o sítio de Paris, contraiu uma febre, vindo a morrer em
seu aniversário de 17 anos, em 1870.
Quando recomeçaram as
apresentações, o papel de Swanilda foi para Léontine Beaugrand, que triunfou no
espetáculo e foi aclamada por Théophile Gauthier como as sucessora da bailarina
Carlotta Grisi. Não poderia existir tributo maior – Gauthier, em sua total
admiração por Grisi, tinha criado sua obra-prima Giselle como tributo à ela.
O papel de Franz foi
interpretado por uma mulher vestida de homem, o que era bem o estilo da época –
os ricos homens patrocinadores do ballet (particularmente membros do Jockey
Club, que eram muito influentes) não tinham interesse em ver outros homens no
palco. Eugénie Fiocre se especializou nesse tipo de papel, e foi a primeira a
interpretar Franz. A tradição de Franz ser dançado por uma mulher durou na Ópera
de Paris até os anos 50.
A obra-prima de Delibes para
esse ballet é frequentemente citada como a principal razão para a popularidade
que Coppélia sempre teve. Delibes misturou composições clássicas e folclóricas,
estilos de dança e música(Coppélia é o primeiro ballet que contém czardas, uma
complicada dança folclórica húngara). A tendência do nacionalismo das músicas,
existente na época, provavelmente influenciou na decisão do compositor de
incluir várias danças nacionais na partitura.
O trabalho de Coppélia foi
musicalmente avançado: as melodias eram mais líricas do que as usadas nas
composições dos primeiros ballets, e Delibes compôs o tema de maneira a
identificar os personagens e a atmosfera, pratica esta que se iniciou com Adam
(com quem Delibes estudou) em Giselle. Swanilda possui uma graciosa e brilhante
valsa, Dr. Coppelius um seco contratempo, e um instrumento canônico é tocado
para a música de sua boneca Coppélia. Franz possui dois temas, as primeiras
quatro notas de cada um formam a mesma forma de melodia. Não existia nenhum solo
masculino escrito para Franz, já que o papel era, inicialmente, interpretado
por uma mulher. Pelo mesmo motivo não havia nenhum pas de deux notável na versão
original da composição; o pas de deux que hoje em dia é considerado excepcional
surgiu com a remontagem feita por Marius Petipá, na produção Russa de 1884.
Apesar do sucesso e
durabilidade inicial de Coppélia, o terceiro ato apresentou um problema para os
coreógrafos subseqüentes: a estória de amor fica quase completa no final do 2°
ato, quando Franz e Swanilda reconhecem suas respectivas bobagens. Alguns
sentiram a necessidade de um grand pas de deux, o que era uma tradição clássica,
para mostrar a maturidade e controle das personagens principais (embora seja
desconhecido de que forma era dançado quando ambos as personagens eram
mulheres); então o grand pas de deux foi inserido no contexto de uma série de
divertissiments. Mas o original divertissiment do Festival do Sino foi
considerado longo demais, e estranho para o enredo. As danças foram inicialmente
encurtadas e mais tarde completamente cortadas. Nas produções subseqüentes foram
tentadas diversas soluções, chegando inclusive a omitir por completo o 3°
ato.
Foi na Rússia que o primeiro grand pas de deux
com um homem dançando Franz surgiu. Curiosamente, havia um pas de deux na
produção de Boston em 1887, mas não era Franz quem dançava, era o tocador de
sino do festival que dançava com Swanilda, personagem que não existe mais no
ballet.
Os elementos fantásticos de
Coppélia residem tão somente nas figuras mecânicas; as pessoas são muito
humanas, e há um final feliz. A maior parte da trama é centralizada na figura de
Dr. Coppélius. Durante décadas ele foi retratado de um feiticeiro do mal à um
excêntrico, e até ridículo, homem velho. Tem sido visto tão somente, como um
homem da ciência, que talvez tenha uma idéia distorcida da realidade.
Paradoxalmente, enquanto seu personagem está pronto para tirar a vida de um
jovem rapaz para dar vida à uma boneca, ele geralmente é visto como uma figura
cômica.
Franz é muito menos
complicado e deixa um pouco a desejar – como, infelizmente, ocorria com a
maioria dos protagonistas masculinos do ballet clássco tradicional.
A popularidade de Coppélia
rápido chegou até a Russia – e à Dinamarca, que tinha uma longa tradição dos
homens dançarem. Apesar da produção dinamarquesa muito ter se aproximado do
enredo original, focou muito menos as bailarinas; Swanilda era a única que
dançava nas pontas. Esta versão, montada por Hans Beck, era muito popular com os
bailarinos e com o público, mas foi criticada pelos cortes feitos na música.
Em 1871 Joseph Hansen
apresentou Coppélia em Bruxelas, e em 1882 foi apresentado no Teatro Bolshoi, em
Moscow. A maioria das versões de hoje em dia são baseadas na bem documentada
versão Russa de 1884, de Marius Petipá; acredita-se que essa é a versão que mais
se aproxima da original de Saint-Léon. Enrico Cecchetti e Lev Ivanov revisaram a
produção 10 anos depois, e os elementos da versão provavelmente sobreviveram até
os dias de hoje.
Ato I
Em uma vila da Cracóvia, Swanilda beija sua mãe e
seu pai, Burgomeister, antes de partirem. Swanilda, ao avistar Coppélia, uma
moça que, todos os dias, lê um livro na sacada do exótico Dr. Coppélius, tenta
atrair sua atenção, mas não consegue.
Franz, o noivo de Swanilda, chega com flores. Sem
encontrá-la, está prestes a ir embora, quando vê Coppélia – que o surpreende ao
deixar cair seu livro, levantar-se e jogar-lhe um beijo. Swanilda, ao ver Franz
mandar um beijo de volta para Coppélia, fica furiosa por ele estar flertando com
outra garota na véspera de seu casamento.
Os aldeãos chegam para começar com os
preparativos do casamento, interrompendo a discussão. Burgomeister, explicando
os detalhes da festa, fica preocupado ao perceber que os noivos se
desentenderam. Borgomeister sugere à Swanilda que ela “escute o trigo”: se ela
ouvir qualquer coisa ao agitar o trigo, então Franz é seu amor verdadeiro.
Aborrecida por não ouvir nada, ela parte para dançar com seus amigos. Franz
persegue Swanilda, tentando atrair sua atenção, mas ela o ignora.
Dr. Coppélius certifica-se de que a praça da
aldeia está vazia antes de deixar sua casa e sua querida Coppélia, mas é
surpreendido por jovens que o importunam; ele afugenta-os com sua bengala.
Swanilda sai de sua casa para ajudá-lo, mas ele, irritado, vai embora,
deixando-a de lado. Swanilda percebe que Coppelius deixou cair a chave da porta
da frente de sua casa. Ela e suas amigas entram na misteriosa casa, para saber o
que há lá dentro e para falar com sua rival, Coppélia.
Ato II
Dentro da escura e misteriosa casa de Dr.
Coppélius, as garotas procuram Coppélia. Encontrando-a atrás de uma cortina,
ficam chocadas ao notar que ela é apenas uma boneca mecânica, tão bem feita que
parece humana. Elas gargalham ao lembrar que Franz provavelmente se apaixonou
por uma boneca. Logo depois encontram outros bonecos mecânicos e se divertem com
eles.
Não encontrando Swanilda em casa, Franz está
prestes a ir embora quando avista o livro de Coppélia. Dr. Coppélius retorna,
procura por sua chave, e percebe que sua porta está aberta. Ele entra na casa
para investigar. Franz consegue uma escada e sobe na sacada, pretendendo
entregar o livro à Coppélia.
Dr. Coppélius, ao chegar, expulsa todas as
garotas de sua casa, todas exceto Swanilda, que se esconde atrás da cortina,
juntamente com Coppélia. Franz chega, esperando encontrar Coppélia, mas Dr.
Coppélius o afronta. Enquanto Franz explica que quer conhecer a atraente moça,
Dr. Coppélius tem uma idéia. Ele oferece a Franz uma bebida, na qual colocou uma
poção adormecedora. Franz cai adormecido e, Dr. Coppélius, inicia a execução de
seu plano, ele pretende roubar a força vital de Franz para dá-la à Coppélia.
Swanilda, que escondida percebera tudo, veste as roupas de Coppélia, fingindo
ganhar vida com a magia do velho, executa danças de diversos lugares,
espanholas, escocesas, etc. Ao mesmo tempo, tenta acordar Franz.
Coppélius fica emocionado quando sua mais
perfeita boneca toma vida, pois finalmente terá alguém real para dividir sua
solidão. Os sons de atividade do lado de fora da casa anunciam o amanhecer.
Swanilda finalmente desperta o sonolento Franz, revelando à Dr. Coppélius que
ela não é a boneca, em seguida foge da casa com Franz.
Ato III
Os
aldeãos ficam surpresos quando Swanilda (vestida de Coppélia) e Franz saem da
casa de Coppélius, já está quase na hora do casamento, mas eles ainda não estão
prontos para a cerimônia. Eles correm para se preparar. Finalmente os dois estão
casados, mas Dr. Coppélius interrompe, exigindo uma compensação pelos danos
causados por Swanilda. Ela oferece seu dote, mas seu pai intercede para pagar. A
aldeia se une a Franz e Swanilda na celebração de seu casamento, e até Dr.
Coppelius compartilha a alegria.
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Arthur Saint-Leon, além de maitre de ballet, era também talentoso músico e bailarino, chegando a acompanhar a si mesmo tocando violino enquanto dançava sua própria coreografia, no ballet “Le Violon de Diable”.
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Arthur Saint-Leon era casado com a famosa bailarina Fanny Cerrito, imortalizada ao dançar o famoso Pas de Quatre, de Jules Perrot, que reuniu no palco as 4 grandes bailarinas da época.
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Coppélia foi o primeiro Ballet em que foram inseridas as Czardas.
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O grande absurdo, que mais tarde seria cometido em outros ballet, foi a constatação da decadência masculina, que se atestou pelo fato do papel de Franz ter sido executado por uma bailarina, Eugenie Fiocre.
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Trágicos acontecimentos também marcaram o sucesso de Coppélia, semanas após sua estréia, iniciou-se a guerra Franco-Prussiana, que determinou a queda do segundo império. Logo após, Paris cercada e a ópera fechada, Saint-Leon, morre aos 49 anos de crise cardíaca e sua primeira bailarina Guiseppina Bozzacchi morre de febre tifóide em Paris.
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O papel de Swanilda, após longas buscas e indecisões, ficou para Giuseppina Bozzacchi, que tinha apenas 16 anos de idade na estréia.
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A coreografia necessitou de ajustes devido a falta de experiência da jovem eleita que apesar de tudo superou as expectativas.
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A valsa de Coppélia foi muita conhecida e difundida no Brasil, na era do rádio. Conta-se que na década de 1940, a Rádio Nacional tocava a valsa todos os dias, antes da novela das 20h, no horário mais nobre da época.
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